Os coachs são cheios de papo furado, mas em uma coisa têm razão: o poder do hábito e da consistência é capaz de causar verdadeiras transformações em nossas vidas. Estou muito longe de chegar perto do passado (e não se trata disso), mas posso dizer que nos últimos três meses ouvi mais discos que nos últimos cinco anos. Isso me deixa feliz.
Também me deixa feliz começar a construir um espaço para falar de música. Sempre fui muito bem-vindo e feliz no Audiograma, claro, mas é diferente quando você é o nome por trás do projeto. Em março consegui atingir uma meta traçada: buscar credenciamento para eventos e shows em BH. A primeira cobertura foi com a Pitty e contei com a minha esposa Natalia registrando as imagens. No final do mês foi a vez de ver a Othon Palace, RU NA e Acalanta, na Casa Matriz.
Mas vamos falar dos discos?
Em janeiro ouvi CAJU, da Liniker. No final de fevereiro segui a recomendação do meu amigo John e escutei o excelente Baile à la Baiana, do Seu Jorge. Posso te dizer? Que groove gostoso. Fico impressionado como certos artistas conseguem se superar e lançar material inédito de alto nível.
A review completa tá disponível aqui, mas você pode ler o trecho:
O disco não é só música; é um convite. Um convite para deixar a vida um pouco mais leve, para lembrar que dançar é, sim, um ato revolucionário e que, no fim das contas, não importa se você está em Salvador, no Rio ou na sala da sua casa: o importante é sentir a batida e seguir o fluxo.
Se você gosta de som vibrante, daqueles que transformam qualquer lugar em pista de dança improvisada, esse é o disco para você. Se não gosta, bem, talvez seja hora de revisar suas escolhas de vida. Porque, meu amigo, perder a chance de curtir esse groove é como recusar um acarajé quentinho na Bahia: um erro imperdoável.
Baile à la Baiana é mais do que um álbum, é um manifesto. Um grito de alegria que diz: “Se o mundo está uma bagunça, pelo menos vamos dançar bonito no meio do caos”.
Dediquei uma atenção especial para uma dobradinha do Snow Patrol. Cara. Tinha anos que eu não escutava Snow Patrol. Final Straw é um álbum lindo. Mesmo depois de tantos anos sem ouvir, senti as mesmas coisas. “Chocolate” faz jus ao seu delicioso nome. É uma daquelas bandas que nunca se tornaram famosas ou monstruosas (OK. Não estou dizendo que Snow Patrol é uma banda obscura, mas estão longe de serem populares como o Coldplay). Eyes Open até tentou mudar o cenário quando “Chasing Cars” e “Open Your Eyes” foram algumas das canções mais tocadas ali entre 2006, 2008. Continua um disco excelente também.
“Final Straw, do Snow Patrol, é aquele tipo de disco que te abraça, te consola e depois te dá um leve empurrãozinho no penhasco emocional. Lançado em 2003, é perfeito pra quem quer sofrer com classe, de preferência olhando pela janela num dia nublado, com uma xícara de chá na mão e o coração todo lascado.
Tem Run, que parece escrita pra trilha de uma cena onde alguém corre desesperado atrás de um amor que já pegou o ônibus. Tem Chocolate, que não tem nada a ver com chocolate, mas é doce e amarga igual a maioria dos ex. E tem Spitting Games, que é animadinha, mas com a energia de quem sorri chorando.
O vocal do Gary Lightbody soa o tempo todo como se ele tivesse acabado de sair de uma conversa difícil no WhatsApp. E as letras? Um verdadeiro manual de “como complicar sentimentos simples com melodias lindas”.
Final Straw não é só um álbum, é um estado de espírito. E se você nunca ouviu chorando no escuro, parabéns: você é emocionalmente estável (ou está em negação).“
“Eyes Open (2006) é o Snow Patrol dizendo: “Você achou que tinha sofrido em Final Straw? Segura mais essa aqui e chora bonito.” É o disco que te pega pela mão, te leva até o fundo do poço… mas com uma trilha sonora cinematográfica e iluminação suave.
Tem Chasing Cars, que virou hino de casais em crise, de finais de temporada de série médica e de todo mundo que já deitou no chão fingindo que tá tudo bem. Tem You’re All I Have, que parece otimista até você prestar atenção na letra e perceber que é um grito de desespero com melodia fofinha. E Set the Fire to the Third Bar, que é um dueto tão melancólico que você sente vontade de mandar mensagem pro ex só pra sofrer com contexto.
O vocal do Gary continua naquele tom de “acabei de ler todas as mensagens antigas e me arrependi de tudo”, e as músicas têm aquele poder de te fazer sentir saudade até do que nunca aconteceu.
Eyes Open é perfeito pra ouvir olhando o teto, criando diálogos mentais que nunca vão acontecer. Um álbum que grita “sinta!”, mas com elegância.“
No meio do mês surgiram uns boatos indicando possíveis shows novos do Radiohead em 2025. Procurei as informações e tudo começou a partir do registro de uma empresa com os cinco membros da banda. Antes das últimas turnês, eles fizeram exatamente a mesma coisa. Decidi ouvir The Bends que também tinha muito tempo que não dava o play. Que coisa boa é saber que conheço essas músicas de cor e salteado há mais de 20 anos. Isso é muito louco.
“Antes de virar trilha sonora oficial da ansiedade existencial via laptop, o Radiohead lançou The Bends (1995), aquele álbum onde eles ainda tinham guitarra, distorção e um leve interesse em se comunicar com o planeta Terra.
Aqui, Thom Yorke já está claramente triste, mas ainda não foi totalmente abduzido por alienígenas sonoros. Tem Fake Plastic Trees, que te faz repensar até a existência do seu sofá. Tem High and Dry, que parece escrita pra tocar em um pôr do sol triste numa estrada deserta. E Just, que basicamente diz “você se ferra porque quer” com um solo de guitarra nervosíssimo.
O álbum é um ponto de transição lindo e desconfortável entre “banda de rock com potencial” e “vamos quebrar todas as estruturas sonoras e emocionais da humanidade a partir do próximo disco”.
The Bends é pra quem gosta de sofrer com distorção, refletir sobre a superficialidade da vida moderna e dizer “essa aqui é a melhor fase do Radiohead, sim!”.”
Esse mês de abril teremos apresentações do Móveis Coloniais de Acaju, Zeca Baleiro, dentre outros nomes. Talvez a gente tenha boas novas para compartilhar na próxima edição da coluna. Voltaremos mês que vem!
Discos
Março
Baile à la Baiana | Seu Jorge |
Smash | Offspring |
Born to Run | Bruce Springsteen |
Cordel do Fogo Encantado |
Cordel do Fogo Encantado
|
Absolution | Muse |
The Swell Season | Glen Hansard |
Once |
Glen Hansard/Marketa Irglová
|
All the Was East is now West for Me | Glen Hansard |
Rhythm and Repose | Glen Hansard |
How we Operate | Gomez |
Final Straw | Snow Patrol |
Eyes Open | Snow Patrol |
The Bends | Radiohead |
Fevereiro
CAJU | Liniker |
All The Right Reasons | Nickelback |
Appetite for Destruction | Guns n’Roses |
Use Your Illusion I | Guns n’Roses |
Use Your Illusion II | Guns n’Roses |
Janeiro
Pills n Thrills and Bellyaches | Happy Mondays |
Lucifer on the Sofa | Spoon |
Nebraska | Bruce Springsteen |
Born in U.S.A. | Bruce Springsteen |
Unknown Pleasures | Joy Division |