Caetano Veloso é um artista que dispensa introduções. O cantor e compositor baiano é uma lenda viva da música brasileira. Suas contribuições na cultura popular vão desde a fundação do Tropicalismo, nos anos 1960, passando pelo ativismo político, pelas trilhas sonoras de filmes e novelas, e publicações literárias. Em 2023, Caetano chega a Belo Horizonte com sua turnê “Meu Coco”, do álbum lançado em outubro de 2021.
Abrindo a setlist com a canção “Avarandado”, que era interpretada pela brilhante Gal Costa, Caetano adentra o palco segurando o violão e com um figurino de camisa e calça branca e seu característico óculos de lentes ovais. Dessa forma, é inevitável não se comover diante das homenagens que Veloso prestaria à cantora, que faleceu em novembro do ano passado. Em determinado momento do show, ele grita: “Gal Costa para sempre!”. O relacionamento desses dois grandes artistas sempre foi marcado por admiração mútua e uma grande amizade.
Seguindo com a música que dá nome ao álbum e à turnê, “Meu Coco”, é marcada por voz e violão. Desse modo, a letra traz paralelos sobre juventude, envelhecimento e morte. No documentário “Caetano Explica Meu Coco”, Veloso conta que a música é uma espécie de autorretrato, em que ele reflete sobre sua própria existência e sobre o mundo ao seu redor. De maneira semelhante, o show consegue capturar e transmitir essa mesma essência para a audiência.
Outra característica que transcorre por todas as quase duas horas de concerto é a simpatia e carisma do cantor. No auge dos seus 81 anos, ele dança, se diverte e é naturalmente agradável, educado e gentil com a plateia. Ficou tímido quando as pessoas gritaram “Caetano, você é lindo” ou “Caetano, eu te amo!”. Ademais, como grande compositor, ele gosta de falar do processo criativo e contexto por trás de várias músicas e sempre valoriza seus músicos, elogiando sua banda por diversas vezes.
Conheci a música e arte de Caetano por meio da televisão, principalmente das novelas dos anos 1990 e 2000, mas nunca tive a oportunidade de ir a um show dele. Assim, a experiência emocionante começou no credenciamento para a imprensa. É especial poder chegar cedo e observar cada aspecto do que seria essa noite. As pessoas tomando seus lugares, as expectativas se ele mudaria alguma música do setlist (ele mudou, trocou “Odara” por “Tieta”, não fomos prejudicados), se ele atrasaria para começar (ele entrou às 22h10, não considero como atraso).
Além disso, presenciar ao vivo um dos maiores talentos que nosso país já produziu é sempre gratificante e recompensador. A turnê “Meu Coco” deve ser, assim como o disco, aclamada por oferecer aos espectadores um Caetano Veloso maduro, confortável em ser uma figura tão importante para o cenário cultural do país, mas ao mesmo tempo um artista de uma simplicidade e talento impressionantes. Testemunhar suas canções ao vivo é inesquecível.